Escolhas


Fim de ano lhe era particularmente difícil. Ou, talvez, a palavra fosse decisivo.
Qualquer escolha mais trabalhosa chegava nessa época, então, à partir de setembro já se preparava.
Sentia, com a chegada dos piscas-piscas, um pouco de disparo. Respiração mais ofegante, ansiedade, olhar sereno. Menos um ano, mais um ano.
Sabia que dessa vez seria diferente. O próximo, 13, como mandava a tradição peculiar de sua vida, seria mais decisivo ainda. Ano de escolhas cheias de mudanças, de deixar para trás a menina e dedicar-se à mulher que surgia na frente do espelho. 
Abria-se ao novo, inesperado começo de um meio em que esperava não ter fim.
Como ritual, escolhia suas pedras. Sem elas, não há caminho.
Acreditava, como sempre.
Atrás da porta acendia sua esperança. Olhava as chamas e sentia-se segura, provando que seu espelho estava mesmo certo em alterar seu reflexo. 



["Se ela pudesse entender, se pudesse se concentrar, se fosse capaz de romper os muros de luz, se conseguisse passear entre suas infinitas possibilidades. Mas ela tenta. E de maneira tão apaixonada que fracassa nos limites de si mesma.
Se ela vencesse essa parede, saberíamos se está ou não cabendo em sua atual realidade. Saberíamos onde ela, enfim, quer, ou necessita, ou sonha, estar".]