Pela janela ela enxergava tudo. Cada passo, cada gesto, cada tempo.
Enxergava o começo, o meio e o fim.
Pela fresta, só pela frestinha, ela sabia de cor o mundo, assim como ele, de fato, era.
E então, medrosa, permanecia sentada à beira de suas verdades, sem dar a cara a tapa, porque, afinal, estava à sombra dos acontecimentos ruins.
Acontece que deste modo, evitava também os bons - saída comum que não lhe tornava interessante - a deixando, além de frustrada, entediada.
Certo dia mudou a cadeira, varreu a sujeira e resolveu sair.
O sapato machucou, roubaram-lhe a bolsa, os joelhos se apertaram e deram-se os machucados. Arrependida?, indaguei-lhe.
Não, respondeu ela, com ar bonito de quem aprendeu a viver o que conhecia só de olhar.
[A luz encontra brecha ao entrar pela fresta. Vimos, então, que há mais claridade do lado de fora, onde nossos desejos, por mais doloridos que possam ser, possuem a delicadeza de se tornarem reais.]