Caixinha de fotos


Guardei muito mais que fotos antigas, guardei o tempo.
Muito mais que o que foi bom, o gosto ácido que ficou.
O camurça da caixinha, desgastado com o tempo, ainda tem o cheiro do perfume que usava.
(sinto enjoo quando abro)
Minhas mãos camuflam uma brancura conservada, afetando o que um dia foi recente. 
Acariciando a barriga com um gesto automático, olho as mudanças no espelho. Nunca tão salientes.
Tudo mudou, nada mudou. Os olhos e o olhar continuam os mesmos. 
(sempre)
Uma leve tontura me faz sentar. Diante do aconchego de minhas pernas esticadas, adormeço.
Busco em sonho voltar às fotos. Ou, quem sabe, antecipar as que ainda nem se deram o prazer de serem tiradas.


[Ansiosa, feliz e emocionada.]