Fechou a porta e acendeu o abajur.
Pegou o livro, estava sem sono.
Tentou se concentrar, mas não conseguiu. Caminhou até a janela, tomou um pouco de uísque.
A noite estava quente, sua mente borbulhava.
Envaidecida pelo que tinha lido, olhou seu rosto no espelho.
Ele estava mais maduro, é verdade, mais mulher.
Suas curvas mais aparentes, seu olhar mais decidido.
Não, não era apenas o olhar, era ela.
Suas experiências, suas lágrimas, seus risos, suas viagens fizeram dela mais segura.
Onde havia se escondido aquela menina assustada? Entre os medos das crenças não vividas.
A pele branca estava lisa, os olhos brilhavam claros como folhas novas, o cabelo escorria por entre os ombros nus.
Não se muda o jeito de ser, apenas o adequada. Ela havia encaixado todas as vontades dentro das caixas que cabiam em seu armário. Nem mais, nem menos.
Já não havia mais espaço para planos vazios ou doces mentiras.
Se ocupava da verdade, ainda que um pouco amarga.
Sentiu o cheiro do perfume, o gosto de seus lábios, a textura do rubor.
Afundou-se na banheira com água morna, quase fria.
Prendeu o sufoco em milésimos de segundos e abaixou a cabeça.
O que fazer? Apenas respire - disse ela a si mesma.
O que fazer? Apenas respire - disse ela a si mesma.
(...)
[Estava enamorada de seus planos coloridos e de suas entranhas mais estranhas. Descobriu-se num pulo só. Era menina que virava mulher. Dos covardes, sentia nojo. Dos injustos, raiva. Dos indecisos, medo. Sabia conduzir, sabia dançar, só não sabia esquecer.]