Nascidas no meio da rua, espalhadas pelo chão - pétalas que ninguém percebe.
Flores dão as mãos para quem nunca existiu.
Relógios, carros, comidas, dinheiro, sexo. A flor? Quem se importa!
Clarah senta na escada da casa em construção, observa o barulho da água escorrendo pelas pedras e vê as pequenas amostras de cor. Ela consegue contemplar a beleza da poesia, a tristeza do amor, mas não consegue ser vista.
Vive por entre os cascalhos, alimenta-se da luz do sol, caminha solitária pela noite.
Filha de um passado, dorme cada vez que sua página se rasga.
Enquanto ele toma uma dose, ela sorri, guardando para mais tarde o que ainda não teve tempo de sair de seus sonhos.
[Arrancou do peito aquela saudade doída e apertou o travesseiro. Mais uma noite, menos um dia]