Esmalte vermelho


Uma menina estranha estava dentro do vagão do metrô nesta manhã.
Olhos claros e escuros, olhar perdido, mente confusa. Corpo franzino, pés inquietos.
Uma menina estranha estava dentro de seus pensamentos. Vestido comprimido, curvas torneadas, cabelos longos.
Sua conduta era leve e tímida, seu poder estava em sua fala autoritária.
Uma menina estranha estava dentro dela. E essa estranheza, de repente, a fez cair entre os bancos cheios e pessoas vazias. Parem tudo, analisem. 
Quem tem piedade não tem compreensão. Quem tem medo causa aversão.
Uma menina estranha, muito estranha, passou por entre os ombros apressados e seguiu para a janela em busca de ar. Tentou discar os números que caíram na caixa postal e fechou os braços. Atravessou dois mundos, reviu rostos, sentiu dor. 
Seu nome não é conhecido, sua voz não é identificada. O que se sabe? Ela estava de esmalte vermelho.
Uma menina estranha deixou suas sapatilhas no chão, pegou a bolsa e seguiu descalça pela rua.
Ninguém entendeu. Era pra entender?
Essa menina, a estranha, desnudava seus movimentos, dançava em meio a ônibus, fumaça e correria.
Dentro de uma tempestade de ruínas, o que lhe causava temor era o que queria encontrar.
Em direção ao vício e ao ódio, foi sem armas. 
O que fazer com ela? Diga adeus ao recebê-la.


[A partida só cabe onde não há retorno. A escolha entra na pele, invade as veias e contamina o sangue. O corpo é uma parte quebrada, a alma é para sempre]