Enquanto caminhava, minha sombra fugia de mim.
Na chuva de outono, meus pés cansados buscavam mais que secura, conforto.
O guarda-chuva dançava com o vento e meus pensamentos deslizavam entre o limite do real e do imaginário, incrivelmente misturados entre si.
Na boca, sentia o gosto. No ar, cheiro, arrepio, assombro.
O coração disparava e os poros erguiam-se em um delírio sem igual.
Entorpecendo minhas ideias, encontrava-me longe de tudo, em outra estação.
Uma sanidade perdida, quieta e assustada, sentava no cantinho da sala à minha espera, enquanto minha coragem perseguia mais um vínculo com aquilo que me despertava dor e fascínio.
Nem sempre o que acaba, passa.
Em um ato de completo desespero, despedi-me da razão, atirei-me ao desatino costumeiro e que doce orgulho irradiava ao abrir as portas dos meus sonhos.
Para ser feliz era preciso confrontar, sem pensar, as piores partes de mim (porém, as verdades mais sinceras). Alheia ao tempo, os acontecimentos agora não poderiam ter mais sentido, e então, confiei. Silêncio, sentidos aguçados.
(...)