Era o último sítio da estrada de chão. O mais alto, quase perto das nuvens cheias de desenhos que habitavam um céu sem igual.
Era o último dia, antes do fim de um mundo.
De braços abertos, Antônio se foi. Deixou mulher, filhos, netos e bisnetos. Deixou as árvores, o gado, o leite - seu sustento. Deixou saudade.
Antônio era forte, quase eterno. Grande por fora, maior ainda por dentro.
Era meu avô, mas era avô de tantos outros. E penso que, de fato, nasceu para ser.
Sua voz soava baixo, pouco falava, muito ouvia; sabia guardar para si as melhores lições.
Brigara pouco, mas tinha seu lado na história bem definido porque era justo, como a maioria de sua geração.
Poucos eram seus prazeres em uma vida de trabalho, mas comia com gosto, sentindo os sabores sempre amparados por uma boa farinha.
Era homônimo de outro Antônio, espanhol admirável que ganhei e que também perdi. E ter assim, em uma vida só, dois Antônios, era muito de se comemorar.
Honra em conhecer, em ter em minhas veias o sangue, em trazer na alma o brilho daqueles olhos azuis, claros como os dias bons. Mais que parte de uma história, ele foi o início. Mais que um homem, ele foi o exemplo.
Vai, Antônio, e faz agora do céu a terra que te trará bons frutos!
"Abre os teus armários, eu estou a te esperar
Para ver deitar o sol sobre os teus braços, castos
Cobre a culpa vã, até amanhã eu vou ficar
E fazer do teu sorriso um abrigo"