Quem a vida não explica


Poucas pessoas no mundo são capazes de me entender. Me escondi então, por este motivo, atrás de textos em terceira pessoa para expressar, discutir e desabafar meus pensamentos, sempre tão contraditórios entre si.
Mas esses mesmos textos, difíceis de serem traduzidos, foram todos, um a um, sempre claros pra você.
Cada palavra, por mais incomum que fosse, sempre e sempre tornava-se a mais pura explicação de uma fase, um acontecimento ou sentimento, expondo-me de maneira simples quando a intenção era exatamente oposta.
Há coisas que não podemos explicar. Há perdões que não podemos dar. Talvez por isso esse asco (escrito assim, sem u) pela palavra desculpa.
E às vezes, é porque não somos essa pessoa que grita, essa pessoa que xinga, que parece não se importar.
Às vezes, e até na maioria delas, somos bichinhos assustados defendendo-se através da acusação, vendo através de nossa própria imagem refletida no espelho, aquilo ou aquele que mais tememos ser.
Sei que se eu chorar, ele vai entender. Se eu surtar, quebrar, mudar, sumir, também.
Sei que um dia ele chegou do nada. Que um dia ficou ali, quietinho, contentando-se em ser a segunda voz em um trio de amizade verdadeira que começou nos pesados tempos de faculdade.
Ganhou notoriedade quando esse trio nem mais existia, infiltrou-se de repente na minha vida e quando percebi, já superava ao longe cada uma das companhias que tive.
O oposto de mim. O silêncio no meu falatório, a calma no meu nervoso, a sensatez na minha impulsividade.
O conselho que me protegeu, a escolha que nunca me arrependi, a força que sempre me manteve de pé.
E ele é assim, como um texto que nunca veio, como um emaranhado de palavras que ficará eternizado quando eu não mais estiver aqui.
Porque na vida a gente escolhe o fim da história e eu escolhi que no fim, seja como for, ele estará ao meu lado - Danilo, o irmão da minha solidão.


"Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica"