O pavor do perdão


O relógio não estava sorrindo pra ela. O tempo, o futuro e o espaço também haviam fechado a cara, e então caminhava pelo frio da rua.
O bom do final do outono era poder comer os morangos, mas haviam neles um certo gosto de passado, e isso lhe entediava.
Tentara ofuscar o brilho da noite e achar graça das vitrines, sempre tão vazias.
Havia o gosto do amor que perdera. E havia também um pouco de saudade.
Mas não tinha mais espaço, mais razão.
Esforçou-se para se concentrar em seu novo livro. Perdera-se entre os sabores gloriosos de sua mente e arriscara-se em nuvens desgovernadas do que sentia.
Prender seu corpo era mais que prender sua alma, muito embora não percebera que por dentro, enchera-se de perdão. Esse glorioso perdão que a tornava majestosa - a menina estava crescendo, e isso lhe causava imenso pavor.