Samantha vestia-se de preto, pouca luz, muita sombra. Encobria-se do luxo de sua alma preto e branco.
De nada se coloria, mas para quê? O estranhamento de sua monocromia era seu encanto.
Seu coração era de tudo o mais suave e livre que existia, e de tão livre, emendou uma amizade igualmente incomum com um corvo. Prestigiado no mundo de Samantha, o animal era sobretudo, esperto em suas escolhas, tecendo à sua volta uma rica extensão da magia da amizade.
Viviam então, com pouca claridade, a menina, o corvo e o coração - três sobreviventes de um mundo injusto onde a dignidade se tornava cada dia mais esquecida e a paz não resistia a uma tentação.
O mundo, os sentimentos mais estranhos e os sonhos escondidos eram o pouco do tudo que o nada lhe proporcionava, e Samantha sabia como ninguém a arte de afogar em seu coração negro, um por um, todos aqueles que amava ou odiava.
Era li, no meio do fascínio pela insanidade, que encontrava sua verdade mais sincera - disponível para poucos, às vezes nem para si mesma.
Por isso ele batia por fora, sem aprofundar em sua pele, tornando-a a única no mundo a conservar em suas mãos seu músculo latejante. E toda noite era igual: lá ia-se a menina pegar de seu corvo a parte de si que voava com ele todos os dias - o bizarro coração de Samantha.
[O negro iluminava sua face e de branco imaginava sua dor, sistematicamente analisada de acordo com seus sonhos. Tons de vermelho manchavam seu vestido, mas havia nela certa doçura - o que havia a deixado sem cor era o que todos indagavam, mas somente ela e seus dois amigos sabiam. Samantha era fechada, como um segredo. Quem sabe um dia tomaria coragem de libertar seus pensamentos]