Irmandade


A confusão de um desfecho não retira o certo do início, e foi assim, no era uma vez, que Vermelha e Branca nasceram.
Quatro anos as separavam. Abismos.
Vermelha acorrentava-se a costumes e imposições. Branca desviava-se do convencional. O preconceito as diferenciava - pudores, regras. Uma adorava, a outra sentia asco.
E assim, embora irmãs, iam-se as duas sempre em tempos desregrados. A inexperiência de Vermelha e a teimosia de Branca.
Qual irmã não brigava? Muito embora fossem caminhos distintos, que mais tarde reservaram-lhes mundos longínquos, o sangue por vezes escapava de suas correções sempre tão cruéis.
Todos os dias, entre cabeças cortadas e poesias, invejáveis divindades recebiam destinos complexos em uma mesma casa, onde haveria de abrigar trejeitos fadados aos opostos.
Sabiam-se perto, sabiam-se ali, mas jamais existiram uma a outra como em casos tão comuns. A irmandade havia escorrido por entre os dedos do ciúme e não haveria onde carregar a mais nova quando o terreno da mais velha já estava dominado. Cabia a ela renunciar parte de seu reino e governar, em seu devaneio real, a parte que lhe cabia - parcela adquirida com o tempo que lhe era direito, enquanto Vermelha deleitava-se com o ouro do pódio de seu pai.


[Branca - porque toda página assim o é, enquanto não escrevemos nossa história. Não que não haja começo, mas a tinta às vezes só vale a pena ser gasta depois que lhe é sabido o final]