Dia sim, dia não, Cristina saia pela rua com sua câmera fotográfica.
Presente de seu pai, que viu poucas vezes na vida, o objeto parecia ter vontade própria quando encontrava a luz do sol.
E era através dele que ela via o mundo, o seu mundo.
Ora colorido, ora preto e branco.
Registrava uma imagem de cada lugar, cada pessoa, e por que não, cada sentimento. Deixava os tons acinzentados para aqueles em que a tristeza tomava espaço e as radiantes para quando dentro de si, igualmente irradiava.
Mas o mundo de Cristina era vasto, e não cabia em seu álbum.
Vida difícil, cheia de rejeição. Acidente de percurso entre uma mulher solteira e um homem casado, nasceu assim, quase sem querer.
De lá pra cá, só falta de carinho. Mas, aquela Nikon chegou na hora certa, e lhe fazia companhia.
Através de suas lentes mal tecidas, a menina criava em suas fotografias aquilo que queria em seu futuro: lembranças desbotadas e sonhos sorridentes. Tudo dentro do tema, dentro do foco.
Desejava um tripé que a sustentasse nos dias confusos, quando não conseguia equilibrar sua mente, quem dera a máquina. E ansiava por um estúdio completinho, cheio de brinquedos para fotografar crianças planejadas, aquilo que não foi.
Era na alma uma verdadeira fotógrafa, e tinha em seu olhar um bloqueador de olhos vermelhos onde dor nenhuma conseguia lhe afetar.
Cristina aguentava bem suas perdas e as descontava com cliques e flashs para que um dia pudesse virar as páginas de sua história com orgulho, afinal, aprende-se a tirar foto, tirando, e a viver, vivendo.