Era a quarta vez naquela noite e meu corpo, por mais amoroso, já não aguentava mais.
Sonhava comigo antes, quando meus pés enrolavam todo o edredom sem ter por que sair em torno deles. A realidade era outra agora e eu dividia a cama, as contas, o choro.
Cutuquei ele devagar (ainda que cansada, tinha dó de vê-lo acordar no meio da noite como um sonâmbulo trombando entre as pernas), mas não tinha outro jeito. Era isso ou acontecer uma tragédia pelo meu sono incontrolável.
- Vai você? - perguntei, ao que ele, incrivelmente saltou do quentinho sem precisar chamar de novo.
Foi o tempo de vê-lo fechar a porta e capotar, em devaneios longínquos ao tempo em que era somente eu, minhas meias e meu travesseiro.
Embora insuportavelmente confortável estava meu sonho, acordo num estalo com a leve sensação de ser uma mãe irresponsável. Levanto depressa e vou até o quarto do Lucas, quando o vejo deliciosamente acordado nas mãos daquele homem tão grande - vejo ali os dois, meus motivos, meus meninos.
Dizer qualquer coisa seria quebrar o silêncio de uma oração mágica que presenciei diante de mim. Encosto minha cabeça em seu ombro e em um olhar estamos os três, minha nova família, simultaneamente mais próximos de Deus.