Dizem que a vida imita a arte. A minha imita o ballet.
Aquele ballet clássico que fazia ainda quando tudo era de fato cor-de-rosa, não apenas o meu colant.
Tempo em que meus pés não tinham peso algum e deslizavam pelo chão de madeira como véu de noiva em dia de casamento.
Lembro do dia em que caí tentando alçar a meia ponta, ainda tão menina, tão cheia de si. Mal sabia que para dançar na vida era preciso muito mais que o que eu mais tinha dentro de mim: paixão.
Na verdade hoje vejo que ela, ao contrário de me salvar de meus temores, sempre foi o alvo das minhas quedas. Buscava a paixão como buscava o ar, e devaneava por entre cimentos e construções exatas - um mundo de arquitetos onde alguém como eu não se encaixava.
Foi assim que perdi, de novo, e sempre, e tanto, a mim.
Segui meu plano politicamente correto e imperfeito como quem anseia o adágio.
E eu era, e sou, tamanha menina que chora por dentro mas continua na quarta posição. A boneca anestesiada das fotografias, o passarinho colorido da gaiola, a bailarina da caixinha de música que dança sozinha a valsa dos seus sonhos.
“Though my dreams
It's never quite as it seems
You're a dream to me”