Soninha adora assistir tv. Quando pequena observava a mãe fascinada pelas novelas e cresceu igualmente apaixonada pela tela.
Jornais e livros nunca fizeram parte de sua rotina, afinal, ver o telejornal é tão mais prático!
Trabalha o dia todo no outro lado da cidade e quando o relógio marca exatas 18 horas, vai correndo para casa. Todo dia a mesma coisa: chega afobada, toma banho, janta e assiste a novela das 8 que passa as 9.
É possível ver em seu rosto um pequeno sorriso quando a mocinha da trama beija o galã, assim como é possível contemplar seus olhos marejados quando algo ruim acontece. A raiva em sua expressão, a dor, a alegria. Ela é, por que não dizer, uma extensão daquela história, que sempre, a cada cerca de 9 meses, tem começo, meio e fim.
E mais que isso, ela sonha com aquilo - compara sua vida a uma tenra novela, onde casar e engravidar é o máximo de seu grand finale. O máximo que pode querer para si.
Outro dia achou um absurdo um casal de gays aparecerem na trama. O que as crianças iriam pensar? Embora via, sem ascuo nenhum, cenas de assassinatos, roubos, sexo e violência. "Fazem parte da vida"- defende, cheia de razão.
Soninha não se acha manipulada. É universitária, oras! E quem estuda, segundo ela, possui sabedoria.
Tanto se acha sábia que até tece comentários sobre a cobertura do Jornal Nacional sobre o caso Isabella, o atirador de Realengo, a guerra do Afeganistão. Perfeita! - admira-se ela.
Soninha a poucos meses irá se casar. Está ansiosa pela lua-de-mel, pelo "pra sempre"e pelo "prometo criar meus filhos na igreja", conforme o padre manda. Também está ansiosa em sentar as crianças, futuros filhos, a sua volta e assistir a tv com a família reunida. Quer coisa mais cultural que isso?
"A luz do sol me incomoda então deixo a cortina fechada"