O antes, o agora e o depois


Estive juntando. Peças embaralhadas surgindo aos poucos na minha cabeça, roupas antigas sendo doadas, lembranças sendo esquecidas. E o tempo?
O tempo ia passando ora lentamente, ora com uma rapidez invejável. Mas quem poderia invejar a velhice que ia subitamente aparecendo em meu corpo?
Já não era mais a mesma menina que corria pela rua com a leveza de uma borboleta, nem aquela que rodopiava em cima de seus pés magicamente enfeitiçada pelo ballet.
Já não conseguia mais imaginar os elefantes nas nuvens, nem rir com as irmãs na hora do jantar, deixando meus pais furiosos.
A infância se desligava de mim como a primeira parte de um filme, e em pleno meio da história, insistia em me preocupar o fim.
Por que essa insistência em não viver simplesmente o agora?
Talvez porque exista a necessidade de saber como será, como seremos - a necessidade de segurança que pra ser sincera, nunca teremos, afinal, quando estamos de fato seguros?
O que temos são pistas. Pistas de como fomos - fotos, momentos. Pistas de como somos - vontades, gostos. Pistas de como seremos - sonhos, planos.
O espelho pode não refletir mais aquele rostinho magro, olhos grandes, pele aveludada. Mas ainda reflete a beleza das minhas marcas, alegres e tristes que adquiri no caminho até aqui, não distante das muitas que ainda ei de colecionar.

"Eu fico ali sonhando acordada
Juntando o antes, o agora e o depois"