"De perto ninguém é normal", e a normalidade é discutível.
O que nos desprende, ou nos deixa livres, certamente é o que mais nos prenderá.
Nunca sabemos qual nosso próprio limite. O limite da dor, o limite do amor.
As marcas vermelhas que ardem na pele como fogo na carne, ora braço, ora rosto, servem para colorir a brancura como se estivessem completando uma tatuagem cheia de contornos floridos. E a estrada que pensamos conhecer bem, torna-se incrivelmente desconhecida, e exatamente por isso, fascinante.
Cinco sentidos.
Sete desejos.
(...)
Ato I
Alice estava assustada. De repente o caminho que escolhera lhe parecia tão tentador que tinha medo de não saber (ou não querer) mais voltar.
Avistou ao longe uma cortina vermelha que lhe conduzia a um palco e com a curiosidade que lhe era peculiar, chegou mais perto.
Ainda receosa, com as mãos trêmulas e um olhar atento, encostou a ponta dos dedos no tecido aveludado, afastando as duas partes e fazendo com que visse o que tinha do outro lado.
Cobriu a boca com as duas mãos em um claro sinal de surpresa.
O que será que Alice estava vendo agora?
Ato II
Por vezes se viu assim, temorosa. Aflita com o que poderia enxergar, sentir, viver.
Mais que curiosa, era intensa. Passava com inquietude cada tempo, cada fase. Ao saborear a visão do outro lado da cortina, saboreava a aventura, e isso era tudo que ela mais amava.
Sabia (e como sabia) que as aventuras poderiam ser perigosas (até mesmo mortais), mas precisava delas para respirar.
Ah, Alice!
Ela simplesmente não sabia que há momentos em que é melhor não abrir as cortinas de si mesma.
Ato III
Apesar da angústia, do suor frio que escorria em seu rosto e da taquicardia, prosseguiu. Olhos bem abertos para ver tudo que pudesse e tato aflorado para tocar tudo que lhe fosse permitido.
Lentamente, passo a passo.
Uma brisa leve fez com que seu rosto branco como a neve se corasse.
O sangue esquentava.
_Meu Deus! - num pulo, foi para trás.
Alice se encontrava em cima de um grande palco, no meio de um bonito espetáculo e frente a uma imensa platéia.
Todos a observavam agora, e cada passo em falso poderia lhe custar caro.
Aquela era a peça de teatro que esperara tanto para atuar. Ela era a protagonista, e neste momento procurava entender a função de cada um daqueles personagens todos que estavam a sua volta.