A terra do nunca


Às vezes as palavras saem fácil, em outras, elas travam e parecem empacar na tela em branco.
Os pensamentos por vezes se tornam tão confusos que é difícil alinhá-los em fila decrescente, como se faz com crianças na escola.
Crianças. Ah, se ninguém crescesse nunca! Pela primeira vez na vida entendi o sentido pleno e real do Neverland. Por um momento desejei ser a fada, a pequena fada do conto do Peterpan e voar para onde quisesse, livre - inteiramente livre.
Mas as asas da fada e da minha imaginação me fizeram acordar numa mesa de escritório, com pilhas de documentos e assuntos pendentes, pessoas engravatadas, barulho de buzinas e aquele cheiro típico das grandes cidades (poluição) - sim minha cara, bem-vinda à realidade!
Ainda ontem eu pegava minha escovinha de dentes da Barbie dentro da mochila e sonhava em dançar ballet com a Minnie. Ainda ontem sonhava com meu primeiro beijo e em ser a melhor jornalista de todos os tempos. Ainda ontem eu tinha sonhos. Ainda ontem.
Hoje? Quem foi que disse que ser adulto seria fácil?
Atropelo meus sonhos e desejos porque adultos pensam demais. Pensam no que vão pensar, pensam no que vão dizer, pensam... e por pensar demais, pensam de menos. De menos em sua própria felicidade.
Se eu não pensasse, pegaria o telefone e não exitaria em ligar. Parecer ridícula? Ridículo é quem não tenta.
Se eu não pensasse, jogaria o emprego chato fora, mudaria de cidade, faria mais textos, acordaria mais tarde. Certamente iria ter menos dinheiro na conta bancária, mas mais pôr-do-sol para me lembrar.
Afinal, o que levamos da vida além de recordações?
O abraço que apaziguava, a lágrima de emoção, a viagem perfeita, a pessoa incrível, o prazer de acordar com vontade. O que se leva é o que o tempo deixa guardado em nós mesmos, o que fomos, o que escolhemos ser. Levamos nossas verdades, nossos medos, nossas caixinhas de fotografias.