Um conto que acontece


Sentiu o vento. Jogou os braços pra trás e se perdeu em seus pensamentos.
Esticou as pernas, alargou a camiseta e se deitou na grama.
Pedro não cabia em si.
Reparou que as folhas secas caiam sobre seu corpo, leves e refrescantes como uma brisa de outono. À essa altura, o menino estava coberto de luxuosas sensações e aquele cenário era perfeito.
Ah Sophia, como ele sonhara com este momento!
Era apaixonado por ela desde a primeira série, e agora fora a primeira vez que pôde se achegar em seus braços. Um toque, um olhar e um beijo - o suficiente para achar que passaria a vida toda ao seu lado.
Mas sentia medo - Sophia não era daquelas de se esconder. Já demonstrara personalidade forte, independência; ditava as regras e dominava as situações.
O gosto de sua boca era doce, o perfume suave, as mãos macias e fortes.
A maioria dos meninos a cobiçava, mas ela não era tão fácil assim, e por este motivo se sentia tão honrado agora.
Na verdade, Pedro flutuava na felicidade de seu primeiro amor, onde a perfeição e a utopia são maiores que os defeitos e as frustrações, a inocência vence a malícia, os sonhos não despertam com a realidade. Ele agora vivia a fase de acreditar no pra sempre, ignorando que o tempo poderia os afastar. Essa era a vez da descoberta, e esse dia, de sua glória.
Um barulho. Celular vibrando.
_Sophia?
_Oi Pedro!
_Tdo bem?
_Onde você está?
_No parque!
_Me espera!
(Ânimo. Alegria. Ansiedade.)
Flores rasgadas e jogadas ao chão para matar o tempo enquanto a esperava.
(Minutos. Eternidade.)
_Não quero que você goste de mim!
_O quê?
_É isso Pedro! Não quero! Não estou preparada!
_Para o quê Sophia?
_Para isso tudo! Não quero namorar, casar, ter filhos! Quero ser independente! Morar em Londres e ser uma pintora famosa!
_Mas Sophia!
_Não tem mais! Era só isso!
_Não quero me casar!
_Tchau!
(Pontos - muitos pontos - de interrogação. Confusão.)
É. Bem-vindo ao amor Pedro! Em questões de segundos, o céu e o inferno. A certeza e a dúvida.
Ele ainda não sabia, mas começava ali o ciclo da alteração - dos romances que trazem sorrisos, beijos, choros, despedidas.
Logo depois do ocorrido encontrara Ana, se apaixonou de novo, mesmo tendo prometido a si nunca mais se apaixonar. Namoraram três meses, até perceberem que eram muito novos para compromissos. Ele agora frequenta as baladas e fica com muitas meninas em uma só noite.
(Modernidade, solidão ou auto-afirmação?)
Mas que ele nunca se esqueceu de Sophia, ah, isso nunca!