Diálogo (a dois)

_E se eu não fosse assim tão santa? Se gostasse de beber, se fumasse de vez em quando, se odiasse horários? E se fosse orgulhosa, cheia de manias, falante e mandona?

_Eu te acompanharia!

Mãos dadas.
Segundo Shakespeare, "dar as mãos não é o mesmo que acorrentar uma alma", e, "beijos não são contratos".
Mas ainda assim, mãos dadas.

_E se eu fosse indeciso?

_Te ajudaria a decidir!

_Escolheria meu caminho?

_Não! Te mostraria as opções!

E o amor talvez se mostrasse pelo lado mais difícil, a entrega.
Ou se escondesse pelo mais fácil, a iniciativa.

_Você me acalmaria nas tempestades?

_Não! Te faria enfrentá-las!

E quando parece que paramos de respirar, eis que surge o sufoco e a paz.
A sensação de dormência que precede a insônia. (ou seria o contrário?)

_E quando estivesse cansado?

_Te deixaria sozinho!

_Sozinho?

_Para descansar no silêncio da sua própria voz.

Porque talvez o que falta no romance é a compreensão do outro como ele é, cheio de si.
Ora completo, ora vazio. Ora música, ora oração.