Redenção


"Eu reconheço que para ti nada é impossível
e que nenhum dos teus planos pode ser impedido.
Tu me perguntaste como me atrevi a pôr em dúvida
a tua sabedoria, visto que sou tão ignorante.
É que falei de coisas que eu não compreendia,
coisas que eram maravilhosas demais pra mim
e que eu não podia entender.
Tu me mandaste escutar o que estavas dizendo
e responder às tuas perguntas.
Antes eu te conhecia só por ouvir falar,
mas agora eu te vejo com os meus próprios olhos.
Por isso, estou engergonhada de tudo o que disse
e me arrependo, sentada aqui no chão,
num monte de cinzas"

Cinzas férteis.
Só quem já viu a escuridão, saberá enxergar a luz. E ela sempre esteve diante dos meus olhos.
Quando morri, meu corpo se entregou como a fonte mais pura da redenção.
Abençoei-me com meus cinco sentidos e renasci.
Criei asas novamente. Reaprendi a voar.
Essa luz, a sua luz, não mais pode me queimar.
Contaminei minha alma de alegria.
Joguei-me no ar, na bruma. Pude consertar meus erros. Tive chance.
Quando vivi, percebi o que antes não percebia - que o amor se transformou em orgulho e a saudade na vontade de provar a meu ego o meu valor. Mas ele não se prova; é grande demais para isso. Eis aqui, neste pedaço de papel rasgado, o melhor de mim.
(...)

*E o papel rasgou-se. Porque era assim que deveria ser. Mas ao invés de lamentar, festejo a dor. O papel, assim como tantos outros papéis, continuarão a rasgar-se ao vento. Só quem resiste são minhas mãos e meu tempo, que não passa e não se vai por entre gestos de grossura. Serei sempre jovem e suave e suas rugas não me afetarão. A mim, escolherá o mais belo dos altares, e me aclamará quando não mais opção existir. Me ofertará flores e passará teus dias a recordar meus carinhos, tão sinceros que nunca soube sequer imaginar que existissem, porque é de Deus o que não se pode ter.