Cheiro de terra molhada


Chegamos ao sítio às cinco da tarde. Tempo de ver o pôr do sol.
Na estrada de terra cheia de curvas, podíamos sentir o cheiro da chuva que havia caído pela manhã.
Minha avó esperava na porta. Ela sempre esperou.
E eu ainda me perguntava o por quê.
Não sei em qual trecho da história me desencontrei. Na verdade, ainda alimentava em mim aquela menina brava de cinco anos.
Mas eu gostava tanto daqueles eucaliptos. Tanto que fiquei extremamente triste quando o cortaram. Sentia uma paz difícil de sentir quando andava à cavalo por eles.
De tudo, o céu continuava o mesmo. Negro, cheio de estrelas. Lembrei da noite em que ele me mostrou a constelação, a festa do Hawaii. Na beira da represa, sentia o calor dos seus braços me aquecendo do sereno.
Não há explicações. Em nada.
Não sei como me tornei a mulher que sou. Como e quando deixei de ter medo da Folia de Reis e aprendi a enfrentar minhas dores psicossomáticas.
Mas sei quando aprendi a amar. E foi com ele.
Pensando no meio do acampado daquelas terras que eu conhecia como a palma da minha mão, decidi esperar por Deus. Ele haveria de se mostrar de novo, e tão logo me devolveria a fé, arrancada de mim com a perda.
Lembro que minha sombra apareceu no sol de repente, junto ao gato preto. Ele, assim como eu, tinha medo de se entregar.
Deitamos os dois no sol que não aquecia, mas que surtia uma sublime sensação de conforto. Essa era a minha décima terceira vida e a partir de agora, era tudo ou nada.