Deus é jornalista


É incrível a inspiração das mesas de bar. Filosofias, teorias, desabafos, histórias, textos.
Tudo regado à vinho.
Frases e mais frases são montadas assim, à deriva, uma a uma. Saem da psique sem grandes pretensões.
O riso e o choro se confundem, descarregando o peso da alma.
Relembramos vitórias, perdas.
Tudo fica num tom pastel e as pessoas ao lado se tornam inexistentes.
Essa é a experiência jornalística que não aprendemos na faculdade. Ou melhor, não nas aulas.
Talvez o maior aprendizado da profissão seja realmente esse, o mais "bohêmio".
Foi lá que aprendi a conversar olhando nos olhos, a ouvir as histórias, a sentir as dores dos outros, a confidenciar as minhas.
Aprendi a rir dos momentos alegres, e dos ruins também. Aprendi as diferenças e as igualdades.
Já reparou que jornalista chama jornalista? É como um imã, um radar, um GPS.
E quando respondemos a alguém, indagados sobre qual nosso trabalho, geralmente ouvimos: "Ih, jornalistas são doidos!"
Recordo do meu pai ao se deparar com a minha escolha no vestibular.
_Jornalismo? Por que?
Ele sempre soube que eu gostava de escrever, de ler. Sempre sonhei em ser escritora. Mas não esperava que fosse levar isso adiante.
_Você podia estudar Direito!
Mas não. Eu não podia.
Abrir mão do meu maior sonho não era nem ao menos cogitável.
E é assim. Uns nascem para cuidar do lar, outros para serem bombeiros, administradores, contadores, padres. E eu nasci para escrever. Para contar o que vejo, para narrar a história dos outros e a minha, porque em determinados momentos elas se somam a tal ponto que nem sei quem é quem.
E pensar que um dia quase abdiquei.
Ver o que ninguém vê, tocar o que ninguém consegue tocar - realização.
E por isso tudo, penso que Deus só pode ser jornalista. Afinal, quer coisa melhor?