Aninha engravidou. Um amor adolescente e pronto, um filho.
Não estava preparada e sabia disso, mas sem prevenir, aconteceu.
A pegou de surpresa, mas não tinha muito o que fazer.
Passava o tempo a pensar, chorar, olhar a barriga no espelho.
Pedro não queria mais saber dela. Sumiu de sua vista como andorinha no inverno, e ela agora estava sozinha.
Sua família a criticaria, seus amigos a abandonariam, sua liberdade acabaria.
Aninha segurou o urso de pelúcia. Por um momento imaginou o quarto do bebê e o rostinho pequeno com o nariz de Pedro.
Um menino para levar ao estádio ou uma menina para ensinar a se maquiar.
Na verdade, ela mal sabia ensinar a si mesma. Era tão nova ainda.
Mãe? A palavra agora causava alergia a seus ouvidos.
Desesperada, tomou uma caixa de remédios.
Acordou como se nada tivesse acontecido. Era como se ele - o bebê - risse de sua tentativa frustrada.
Mas ela estava confusa. Não queria matar ninguém, só queria sua indivualidade de volta.
Apesar disso, até se orgulhava de ter em seu ventre, um lembrete dos momentos felizes que viveu com Pedro.
Ele era, sem dúvida, o grande amor de sua vida.
Isso a acalmava - pensar que carregaria sempre a lembrança dele com ela, que misturaria os sangues, os genes, os traços.
Um vínculo eterno. Pena que ele não sabia disso. Nem saberia, pois Aninha não queria piedade, queria amor, reciprocidade.
Precisava só decidir como contar. Falar assim de supetão ou ir preparando aos poucos?
Ir para a casa da avó? Fugir de casa? Pedir apoio?
Tantas dúvidas.
Logo uma interrupção - correu para o banheiro. Outro enjôo.
Quem sabe junto à comida não iria também seu desespero. Rezava por isso.
Mas os dias passavam e nada.
O telefone tocou.
- Alô!
- Pedro?
A voz do outro lado era bem conhecida.
- Não acredito que me ligou!!! (alegria)
- Preciso falar com você!
- Eu também! (sabia que ele ainda me amava!)
- Estou me mudando de cidade!
- Jura? (decepção)
- Queria te dizer que você foi muito especial, mas acabou.
- Não disse que era pra sempre? (tristeza)
- Os "pra sempre" no amor sempre tem fim, Aninha! É só modo de falar!
- Ah! (engravidar também será um modo de falar?)
- Boa sorte aí!
- Pra você também!
Silêncio.
Aninha não tinha decidido, mas o destino decidiu por ela. Poderia ter gritado, implorado, contado que esperava por um filho, mas não.
Não agiu porque iria fazer aquilo que ele não fez, assumir.
Assumir um ato, um amor e uma consequência.
Da noite para o dia virara de adolescente à mulher.
Contou à mãe assim que ela chegou do trabalho. Choraram abraçadas.
O pai esbravejou, fez ameaças, mas com o tempo aceitou o neto à caminho.
Aninha - já com barrigão - ajudava nas despesas da casa confeccionando bolsas e capinhas para celular de patchwork que aprendera a fazer na televisão.
Junto ao artesanato, e melhor que isso, aprendera muitas coisas nesses longos meses de espera.
Aprendera a cuidar de si mesma, a batalhar por sua independência, a gostar de alguém que ainda nem conhecia.
Colocava músicas no mp4 e os fones de ouvido para o bebê ouvir. Ele haveria de gostar de Smiths - quem não gostava? - pensava.
Ao passar os cremes, antes de deitar na cama, sentia o filho se mexer e enchia-se de alegria e lágrimas nos olhos.
Tão pequeno e tão inesperado, ele agora era sim, desejado.
Entristecia-se com o fato de Pedro nunca mais ter a procurado. Mas mantia-se firme em seu objetivo de tê-lo ao seu lado por livre e espontânea vontade.
Não queria se envolver tão já. Queria desfrutar do maior amor que conheceu - o de ser mãe.
Não estava preparada e sabia disso, mas sem prevenir, aconteceu.
A pegou de surpresa, mas não tinha muito o que fazer.
Passava o tempo a pensar, chorar, olhar a barriga no espelho.
Pedro não queria mais saber dela. Sumiu de sua vista como andorinha no inverno, e ela agora estava sozinha.
Sua família a criticaria, seus amigos a abandonariam, sua liberdade acabaria.
Aninha segurou o urso de pelúcia. Por um momento imaginou o quarto do bebê e o rostinho pequeno com o nariz de Pedro.
Um menino para levar ao estádio ou uma menina para ensinar a se maquiar.
Na verdade, ela mal sabia ensinar a si mesma. Era tão nova ainda.
Mãe? A palavra agora causava alergia a seus ouvidos.
Desesperada, tomou uma caixa de remédios.
Acordou como se nada tivesse acontecido. Era como se ele - o bebê - risse de sua tentativa frustrada.
Mas ela estava confusa. Não queria matar ninguém, só queria sua indivualidade de volta.
Apesar disso, até se orgulhava de ter em seu ventre, um lembrete dos momentos felizes que viveu com Pedro.
Ele era, sem dúvida, o grande amor de sua vida.
Isso a acalmava - pensar que carregaria sempre a lembrança dele com ela, que misturaria os sangues, os genes, os traços.
Um vínculo eterno. Pena que ele não sabia disso. Nem saberia, pois Aninha não queria piedade, queria amor, reciprocidade.
Precisava só decidir como contar. Falar assim de supetão ou ir preparando aos poucos?
Ir para a casa da avó? Fugir de casa? Pedir apoio?
Tantas dúvidas.
Logo uma interrupção - correu para o banheiro. Outro enjôo.
Quem sabe junto à comida não iria também seu desespero. Rezava por isso.
Mas os dias passavam e nada.
O telefone tocou.
- Alô!
- Pedro?
A voz do outro lado era bem conhecida.
- Não acredito que me ligou!!! (alegria)
- Preciso falar com você!
- Eu também! (sabia que ele ainda me amava!)
- Estou me mudando de cidade!
- Jura? (decepção)
- Queria te dizer que você foi muito especial, mas acabou.
- Não disse que era pra sempre? (tristeza)
- Os "pra sempre" no amor sempre tem fim, Aninha! É só modo de falar!
- Ah! (engravidar também será um modo de falar?)
- Boa sorte aí!
- Pra você também!
Silêncio.
Aninha não tinha decidido, mas o destino decidiu por ela. Poderia ter gritado, implorado, contado que esperava por um filho, mas não.
Não agiu porque iria fazer aquilo que ele não fez, assumir.
Assumir um ato, um amor e uma consequência.
Da noite para o dia virara de adolescente à mulher.
Contou à mãe assim que ela chegou do trabalho. Choraram abraçadas.
O pai esbravejou, fez ameaças, mas com o tempo aceitou o neto à caminho.
Aninha - já com barrigão - ajudava nas despesas da casa confeccionando bolsas e capinhas para celular de patchwork que aprendera a fazer na televisão.
Junto ao artesanato, e melhor que isso, aprendera muitas coisas nesses longos meses de espera.
Aprendera a cuidar de si mesma, a batalhar por sua independência, a gostar de alguém que ainda nem conhecia.
Colocava músicas no mp4 e os fones de ouvido para o bebê ouvir. Ele haveria de gostar de Smiths - quem não gostava? - pensava.
Ao passar os cremes, antes de deitar na cama, sentia o filho se mexer e enchia-se de alegria e lágrimas nos olhos.
Tão pequeno e tão inesperado, ele agora era sim, desejado.
Entristecia-se com o fato de Pedro nunca mais ter a procurado. Mas mantia-se firme em seu objetivo de tê-lo ao seu lado por livre e espontânea vontade.
Não queria se envolver tão já. Queria desfrutar do maior amor que conheceu - o de ser mãe.