As assistentes de Deus

O corpo dela mudou. Os seios aumentaram, a barriga cresceu, a cintura se foi.
As compras não são mais pra ela, mas não se entristece por isso.
Sofre uma dor sem igual, mas quando escorrem lágrimas são de felicidade.
E então pode ver a pele tão novinha e toda enrugada. Os dedos tão pequenos que dá medo de pegar, assim como todo frágil corpo. O som gostoso da gargalhada e o choro preocupante.
A sensação de que nasceu com o único intuito de viver aquela fase, aqueles dias.
Ser mãe.
Gerar por 9 meses um pedaço dela mesma misturado com parte da pessoa que ama. Gerar a vida em sua própria. Ser importante, vital, única.
Ver em outro corpo a cor dos seus olhos, o risco da sobrancelha igualzinho o dele. Poder planejar a busca na escola, os churrascos de domingo.
Certamente a melhor coisa que sentiu. Mas era tudo tão novo: a casa, o casamento, a filha. E ainda assim, mantinha a independência.
Ser mulher.
Ser milhares de pessoas em uma só. Idealizar, seguir, insistir.
Tudo o que faz a diferença no sexo frágil. A delicadeza e a força, a suavidade e a correção.
A arte de reproduzir, de dar continuidade aos sonhos, ao mundo.
E pensar que tudo faz parte de um projeto. E dele "se faz o céu".
Para que um dia ouçamos a alegria e a fertilidade bater à nossa porta sem nos preocupar com a violência, com as drogas ou qualquer outro tipo de insônia tão frequente, é bom já começarmos a sentir tudo isso.
Uma declaração de amor. Uma utopia real.
Uma luta e uma lembrança.
Ser sensível e se permitir a empatia, pois são elas que nos iluminam e nos dão o ar que respiramos.
Valiosas mulheres que nos colocam no colo quando nos sentimos sozinhas e nos apóiam quando o resto do mundo vira as costas.
Valiosas mulheres que entendem nossos olhos cheios de vontade de chorar porque o amor da nossa vida foi embora ou porque passamos no vestibular.
Valiosas e fabulosas porque existem na coragem e nunca nos deixam desistir ou desanimar.
Mães, aquelas que existem porque Deus precisava de assistentes.