Meu plano

Plano de comprar um carro, uma casa. Plano de se casar, ter filhos. Fazer a pós-graduação, viajar para a Europa, aprender yoga, plantar um ipê roxo. Plano de ser independente, de ser voluntária em um hospital psiquiátrico. Aprender a cantar, falar francês fluente, ser uma escritora famosa.
Tanta gente e tantos planos.
Anos pensando no futuro e de repente bumm... O carro perde o controle, o avião cai, o coração não agüenta, a veia do cérebro se rompe. Tantos meios e um só destino: a morte.
Temível por uns, vangloriada por outros, mas sempre inevitável. Uma hora, mais cedo ou mais tarde, naturalmente, acidentalmente ou por vontade própria, ela acontece. E com ela, se vão os planos.
Talvez se consiga realizar todos eles, parte. Mas talvez nenhum. E aí é onde a revolta chega.
O garoto que ia se formar em direito no mês que vem. A mulher que nunca disse o quanto amava aquele homem. O pai que nunca fez as pazes com o filho.
Não adianta tentar prever o futuro. Guardar dinheiro, esperar o momento certo. Ele não existe.
Há vontade? Faça.
Gaste, escreva, ligue.
Sempre é bom prevenir uma crise financeira, só não é bom deixar de viver por isso.
Sempre é bom deixar o tempo concertar as coisas e acalmar os nervos, só não é bom tentar esquecer o que não se esquece.
Quando penso que meus planos morreram, eles nascem de novo. Mas, plano desejado com verdade jamais se perde.
E ainda que a luz se apague e meu pulso pare de pulsar, ele continuará vivo. Senão em meu corpo, na memória e na história que faz de nós, pessoas a se lembrar.