Não há novas mensagens!

Não há novas mensagens!
Todos os dias eram iguais, e Tito ouvia a mesma mensagem na secretária eletrônica. Ou melhor, a falta delas.
Ainda com a boca coberta de batom e o rosto todo branco, ele variava entre a felicidade pintada e a tristeza de não ter notícias.
Bella desapareceu em uma noite de verão. Dessas em que ninguém fica dentro de casa, feito barata.
Disse que iria comprar sorvete e, puf, sumiu.
Dessa vez o mágico jurara não ter nada com isso. E assim, a menina-mola nunca mais havia entrado na caixa, como fazia todas as noites.
Tito era apaixonado por ela desde criancinha, quando brincavam de dar comida ao elefante.
Atrás do grande público, riam de si mesmos, de suas manias e fantasias esquisitas.
Ela era tão pequena e franzina que não fazia lá muito sacrifício em caber dentro da caixa. Rosto de boneca de porcelana, pele branca como chantilly, cabelo marrom como chocolate ao leite.
E uma dúvida o martelava incessantemente.
_ Será que ela fugiu com o trapezista? - se perguntava.
Mas Bella não era dessas de se amedrontar. Se houvesse um romance, por quê não o assumiria? Afinal, nunca tiveram nada de concreto a não ser flertes entre um espetáculo e outro.
Mas, onde será que fora parar a menina-elástica?
Escafedeu-se assim, como pó?
Após 20 anos, o que se sabe é que Tito a esperou dia e noite, mês a mês, ano após ano. A conservou sempre com aquele rostinho de anjo e por isso nunca deixou de admirá-la por suas dobragens e alegrias. E ainda que uma lágrima ou outra insistisse em sair de seu rosto, jamais perdeu sua alma de palhaço, onde o sorriso não é profissão, mas dom, vida e magia.