E se eu fosse Clarice, o que diria da vida?
Talvez dissesse que valeria a pena trocar as cinzas pelas cicatrizes, porque sem elas não há nada.
Ou talvez nem nisso pensasse, tomasse um café e me deitaria no sofá mais confortável.
Ou talvez nem nisso pensasse, tomasse um café e me deitaria no sofá mais confortável.
Isso se eu fosse Clarice, mas por enquanto não passo de Alice.
Alice assustada no fundo da sala, pensando em que hora vai parar de ouvir vozes. E elas nunca cessam.
E se você fosse ela? E se fosse eu?
Mas ninguém pode ser outro senão o próprio, insuportavelmente demais a mim. Porque às vezes cansa ser quem é, cheia de indagações, vontades e desrespeitos.
Sinto as agressões e saboreio a vontade de me entregar, mas persisto somente onde posso reinar.
Meu reino por uma cereja vermelha e tentadora! Chega de maçãs!
Ou morangos. Porque “por enquanto é tempo de morangos”.
O gato preto pula do sofá num susto. Quer briga com o cachorro. Hoje é assim. Trocaram-se os papéis.
Felizmente.
Gato bate em cachorro feito rato e assim caminha o mundo animal. Nos surpreendendo enquanto os humanos continuam os mesmos.
Alice (ou eu) ainda se questiona sobre sua existência. E então lembrou-se de Clarice, confundindo assim ainda mais sua personalidade mutante e conflitante.
“No fundo ela não passava de uma caixinha de música meio desafinada”.