Um dia


Abriu a porta de casa e colocou as bolsas em cima da mesa. Estava exausta.
Subiu as escadas.
_Onde você vai?
_Preciso descansar.
Cada degrau parecia um quilômetro.
Entrou no quarto e deitou sob a colcha. Nunca fazia isso.
Janela e cortina blackout fechadas, escuridão, como lhe era por dentro.
Durante uma semana permaneceu assim. Pausa para ir ao banheiro, comer um lanche rápido, e cama de novo. Não estava a fim de conversa, de rua, de visitas. Não estava a fim da vida que seguia lá fora.
Você precisa reagir, o marido dizia. Sem sucesso.
Perder um filho não é dos momentos mais fáceis. Sentir o luto de dentro pra fora, o vazio no útero e no coração, o desfazer dos sonhos.
Vai ficar tudo bem, era o que ela respondia. Vai ficar.
Não hoje, um dia.