Flamejava


Não estava preparada para aquele amor.
Não estava preparada para as dúvidas que ele trazia, para a montanha-russa de sentimentos que despertava nem tampouco para a angústia que a falta dele a causava.
Não era amor, na verdade, era furor. Pelos olhos que brilhavam, pela pele que arrepiava quando encostava, pela boca macia.
Por vezes pensou estar enlouquecendo, mas não. Estava sã, completamente sã – tão sã como jamais havia ficado.
Nada de bebida, cigarro, palavras rasgadas de dentro de si no escuro da noite.
No entanto, o que se ouvia era só o barulho das teclas.
Nos últimos tempos sentia-se mais bonita. É, estava mesmo mais bonita. 
Mais desejada, mais olhada, mais intensa. Sentia as coxas se contraírem quando ele passava, os músculos dançarem, os dedos...
Apaixonada? 
Não sabia se era paixão o que vinha junto com a raiva. Havia dias em que acordava assim, enraivecida por dentro. 
Vontade de atear fogo em suas próprias vontades. Vontade de atear fogo onde nela já flamejava.