Sobre um ponto


A humanidade era sempre a mesma, e isso a enjoava.
Precisava de encanto para continuar escrevendo, mas quando mostrava-se humano, lá ia ele pelo ralo.
Para isso não era preciso muito. Saber-se falível bastava.
Não queria perfeito, mas tinha ascuo da mesmice.
Tereza não era mesmo fácil de agradar. Voava alto em devaneios, embora não os consumisse. Tinha prazo de validade curto, era só deixar passar.
Quando passava, sentia apenas o amargo de uma noite. Nada que uma dose de wisky não curasse.
Embora parecesse ambígua, não era fria. Tinha habilidade para acordar num estalo. E o estalo vinha assim, de repente.
Naquela noite deu-se, portanto. Restaram as páginas escritas.
Todo texto tem um enfim, ponto final. Tereza sabia disso e, com frases de impacto concluía sua literatura.


[Ele se fez em texto. Saiu do papel e ganhou cor, mas desbotou-se com os assuntos do cotidiano. Cotidiano cansativo do sempre igual. Nada diferente, parte do previsível. Tereza então se depara com o que dentro de si conserva, mas não, não está disponível. Inquieta e fervilhante. Insônia que chega mansa, calculando suas horas, enquanto a estrada se forma a seus pés - caminho de volta pra casa.]