Ansiedade pela Vida



Segurou a porta e pensou. Estava esquecendo alguma coisa.
Nos últimos tempos, sempre estava.
_ Ah sim, o exame! - pegou o envelope em cima da mesa e saiu, aflita.
Dias e dias sem dormir para pegar aquele resultado. E quem disse que conseguira abrir?
Preferiu que a médica visse antes. Daquilo, de uma só palavra, dependia seu destino.
Três mulheres em sua frente no consultório e os ponteiros do relógio pareciam ter estacionado.
Cada minuto custava a passar, e ela conseguia ouvir o tic tac sem o mínimo esforço.
26 anos, quase 27. Apesar de já ser uma mulher, ainda se sentia uma adolescente assustada.
Em agosto mais um ano, mais um fio de cabelo branco e mais uma dúvida, certamente. As colecionava, como boa leonina curiosa e exigente.
_ Calma! - dizia silenciosamente a si mesma.
Ouviu seu nome pronunciado errado pela secretária e congelou. O frio na barriga se espalhou pelo corpo e seus dedinhos quase não conseguiram caminhar até a sala.
_ Como vai?
_ Ansiosa!
_ Sabia! - disse sorrindo, a médica - Vamos lá!
Respira, respira, respira.
Um mundo de pensamentos passou discretamente sobre sua visão.
Tentou segurar o choro ao ouvir a palavrinha resultante, mas não conseguiu.
Também não conseguiu ligar para contar, nem passear no shopping, nem tomar mate-com-leite.
Na verdade, continuaria sem conseguir dormir de tanta ansiedade.
Mas, será que esses 9 meses passariam tão depressa?