Martinha das cores

Cores. Cores vivas, cores mortas. Cores dançantes em torno de seus olhos.
Um leve desespero, um gosto amargo na boca, um buraco no estômago e chão.
Marta caiu alheia a quem estava a seu lado, alheia aos motivos que a fizeram desmaiar, alheia aos potinhos de esmalte que por sorte não despencaram em cima dela, a tornando uma tela viva parecida com as de Dalí.
O que ela tinha? Gravidez? Mal-súbito? Não. Era bem mais simples: fome.
De cliente em cliente, Marta esquecera de comer. Ah, Marta!
Nem para colocar uma bolachinha naquela bolsa cor de laranja enorme que trazia consigo.
Mas é que ela anda meio esquecida, coitada. Acorda às seis da manhã e aí sabe-se Deus a hora que vai parar. Unha francesinha, unha artística, renda, carmim.
Pé, mão, depilação - é tanta informação.
Mas ela gosta do que faz.
Só que dessa vez, de rosa chiiiclete, ela ficou bege, e precisou almoçar.
Já recomposta, seguiu sua profissão aconselhando:
_Passa esse aqui que é fashion!
Sim, além de manicure, ela era personalstylist e também conselheira amorosa.
Entre tantos atributos, ficava difícil arranjar outra que não fosse a famosa "Martinha das cores" para auxiliar na auto-estima, afinal, não é todo mundo que tem uma aquarela dessas todo dia em casa né?