E eu tinha 17!

_É, olha a gente aqui de novo!

_À beira dos meus 25! E pensar que eu tinha 19!

_E eu tinha 17!

Estamos aqui porque o tempo pode não ter parado, mas a nossa amizade o acompanhou. E acompanhou também nos churrascos, nas mesas de bar, nos choros por telefone.

A amizade, essa que não se destruiu, nos fez mais fortes quando parecíamos fracos, nos fez mais unidos quando parecíamos convenientes e nos fez sem provas, porque não precisamos delas.

Aqui se encontra a verdade, se encontra a irmandade, se encontra a paz, ainda que estejamos em lados políticos opostos.

Ele era tímido, meio sem boca, menino de tudo.
Ela era geniosa, falante, e se achava madura.

Hoje são mais velhos, mas nem perceberam ainda.

Quando a amizade fica chata, tiram férias. Mas faz tempo que isso não acontece.
Talvez não acontece porque se tornaram irmãos, e irmãos nunca estão ausentes.

(...)

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril".