Flores sem nome

Flores nascem todos os dias, mesmo que a gente nem perceba.
Flores sem nome, sem rosto, sem griffe.
Flores que se desgastam no trânsito e acabam morrendo secas sem que sejam notadas.
Mas nem por isso deixam de ser flores.
Nem por isso, por serem feias, deixam de ser quem são. E isso é o que importa.
Há flores nos cantos cheios de mofo, nos becos mais escuros, nas casas mais sombrias.
Há flores no deserto e nos olhos de pessoas frias.
Há flores e vida, saudade e esperança.
Há vontade e desejo.
Basta ver.
Basta parar o tempo ao menos por um minuto, abrir a janela da alma e enxergar.
Enxergar o que esquecemos, ou fingimos esquecer.
Assumir, enfrentar os medos, arriscar.
Quando fizermos isso, as flores serão mais coloridas e as veremos sorrir em nossas janelas, porque a beleza e a claridade estão prontas lá fora, basta deixá-las entrar.

"Uma flor nasceu na rua
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.

Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor"