Sobre a luz e a queimadura

Quando dói muito, eu danço.
Não há o que lastimar, apenas o que deixar ir.
Desfazer os laços é desfazer os nós.
Perder a razão é não aceitar. O resto é o que se pensa dela.
Quem tem mais motivos de ser ou de estar? Se o que eu sou é resultado de como estou.
Mas estar é fase. Ser é imutável.
E eu sou muito, sou pouco.
Me perco, me encontro.
Não há razão para a minha infinita solidão. Mas eu a sinto.
Na verdade eu não sinto; eu sou.
Independente até de mim, de meus sonhos utópicos não-realizados e nem por isso menos belos.
E até a sinto leve.
Aliás, “qual o peso da luz”?
Descobri há pouco tempo.
A luz pesa quando queima. E te faz não querer mais a claridade do dia.
Passa-se então a adorar a noite.
Dorme-se menos.
E nos intervalos eu danço. Danço porque dói, ou dói porque sangra.
Mas a vontade de rir e flutuar persiste quando medito. Administro bem o caos.
Não saberia administrar uma felicidade alienada e sadia. A morbidez é o que me inspira.
E essa sensação de que falta pouco. Porque o muito dá impressão de velhice e eu quero morrer jovem.